Crónica de Licínia Quitério | Ano vai, ano vem

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Ano vai, ano vem

por Licínia Quitério

 

É de bom tom abordar o tema da passagem de um ano para outro ano com umas frases bordadas de alguns lamentos pelo ano que finda e de bons votos para o que começa. Conveniente, portanto, obedecendo ao calendário que exibe o mês de Janeiro a nascer, começar a alinhar umas prosas, embora já antes ditas e reditas, desejavelmente salpicadas com alguns pozinhos de imaginação, sem nunca desprezar a oportuna solenidade.  Com os seus trezentos e sessenta e cinco  dias pela frente, o recém nascido aí estará, disposto a acompanhar mais uma viagem do sol em volta da terra.

Então que dizer do que está mesmo a dar o último suspiro, melhor dizendo, o derradeiro segundo? Dez, nove, oito, sete…BUUUMMM. É a Festa, o ruído, o estoiro, o grito, o salto, a coreografia das multidões, igual em ponto grande à dos salões, neste mundo e nos outros, das mulheres e dos homens que insistem em guardar uma pequenina esperança em dias felizes. Pode ser agora, pode ser agora, dá cá um abraço, toma lá um beijo, se lágrima for é o que sobrou de um amor presente ou ausente ou não nascente.

Deita-se fora o que não presta, bate-se com vigor num tacho amachucado, uma tampa, outra tampa, qualquer coisa que faça barulho, que diga, vai-te e não voltes, que venham em teu lugar coisas belas, inteiras, de nomes vários, que podem ser saúde, ou dinheiro, ou uma companhia que tarda, ou o desejo inconfessado do retorno do que não chegou a acontecer ou do que por bem aconteceu.

Fazem-se balanços do que foi bom, do que foi novo, do que se foi embora, do que não foi mas devia ter sido, do que ficou por dizer. Não é um deve e haver, mas uma conta corrente connosco, atrás de nós, ao nosso lado.  Correrá, sabe-se lá por mais quanto tempo, o que se sabe é que não conheceremos o saldo, positivo ou negativo, da tal conta que se fechará quando formos apenas uma dízima infinita, o resultado de uma fracção do infinito universo que nos habita.

Vamos lá então deixar as reflexões de ocasião e preparar o início de mais uma volta neste carrossel que se quer de mais luzes que de sombras, da paz e não da guerra, da generosidade, da compreensão, da beleza que os bons espíritos são capazes de produzir.

FELIZ 2025!

Licínia Quitério

 


Licínia Correia Batista Quitério nasceu em Mafra em 30.Jan.1940. Livros publicados: Poesia – Da Memória dos Sentidos; De Pé sobre o Silêncio; Poemas do Tempo Breve; Os Sítios; O Livro dos Cansaços; Memória, Silêncio e Água; Travessia, (Menção Honrosa do Prémio Internacional de Poesia Glória de Sant’Anna); A Decadência das Falésias; Participações em antologias diversas. Ficção: Disco Rígido, Volumes I e II;  Os Olhos de Aura; A Metade de um Homem; A Tribo; Mala de Porão; Discurso Directo. Tradução: O Vizinho Invisível, de Francisco José Faraldo.

Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Licínia Quitério.


 

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